A MINHA PARÓQUIA: CONSTRUÇÃO, DESCONSTRUÇÃO, AFLIÇÃO

Eis a história da minha paróquia, que eu amei porque me formou e me fez crescer. E agora eu não reconheço mais a sua linguagem e vejo que ela assume o rosto empoeirado do passado.

O relato é de Jeannine Antoine, leiga da Bretanha, na França, publicado no sítio Garrigues et Sentiers, 19-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto(...)

Quero contar-lhes a vida da minha paróquia desde o primeiro dia em que a integrei, depois de uma mudança. Abrange 35 anos, um caminho de fidelidade, por assim dizer. Quando cheguei à minha nova paróquia em 1975, ainda bem jovem, o pároco encarregado pela pastoral havia me impressionado muito pela força das suas homilias: eram límpidas, bem estruturadas e apresentavam uma mensagem evangélica que descia ao coração e o habitava. Fundamentadas sobre a Palavra de Deus, elas iluminavam o meu caminho.

Em suma, eu encontrei naquele pároco um guia espiritual sem par. Pouco a pouco, a minha vida cristã, até então limitada à prática religiosa, se transformou, porque eu havia descoberto, graças a ele, um Cristo relacional esplendente de amor e de verdade. A paróquia tornou-se para mim a "montanha de Sião", a minha fonte de água viva.

Quando me foi solicitado, eu me tornei catequista para as crianças das escolas públicas e, com elas, redescobri o Evangelho passo a passo, como quando se livra um caminho dos espinhos. O diálogo da oração dialogante tornou-se familiar para mim. Tudo ia bem!

Mas, em 1996, depois de 22 anos de serviço, esse pároco pediu para se aposentar. Algo muito normal!
Ele foi substituído por um padre diferente em todos os sentidos. Por 22 anos, estivemos todos os domingos como na "Câmara Alta do cenáculo" e havíamos sido conduzidos a renascer do alto, pelo Espírito Santo. E, de repente, o novo pároco nos fazia descer ao nível da terra, porque a missão “ad gentes” do Concílio Vaticano II, isto é, a pregação do Evangelho a todos os homens era a sua maior preocupação. "Vão aos seus bairros, saiam dos seus cenáculos!", ele nos dizia, "a missão é ir ao encontro dos outros".

Logo, os paroquianos entenderam que perderiam a sua tranquilidade e que a bem-aventurança do Tabor havia acabado.

Alguns não suportam isso e abandonaram a paróquia; outros permaneceram, e eu estava entre estes últimos. Arregaçamos nossas mangas para fazer reuniões de bairro, visitas às casas, criar um jornal paroquial gratuito (distribuído por voluntários em todas as caixas de correio), organizar centros de bairro etc. Em síntese, sentíamos as correntes de ar atravessando paróquia, de tanto que a abertura era grande e exaltante.

Mas, depois de oito anos, para a surpresa de todos, esse pároco foi transferido, depois de um abaixo-assinado de um grupo de paroquianos em desacordo com a "administração".

Na falta de um sucessor adequado, a paróquia foi então fundida à que estava mais perto, já que os dois campanários distavam apenas 300 metros. De rivais como sempre haviam sido, as duas paróquias se viram obrigadas a trabalhar juntas. O pároco "comum", relativamente jovem (44 anos), homem fino e inteligente, soube conduzir o barco sem fazê-lo afundar. Grande arte pastoral!

Ele nos persuadiu da necessidade de “ampliar as estacas da tenda”, de romper as barreiras dos hábitos comunitários, de nos adaptarmos mutuamente. Para mim, essa experiência foi um salutar enriquecimento. Eu descobri novos rostos e estabeleci novas relações. Tudo ia bem, sem perder nada da vitalidade da minha velha paróquia.

Mas, infelizmente, isso não durou muito, já que, assim que recuperamos o equilíbrio, as autoridades diocesanas acreditaram ser oportuno voltar à situação anterior: cada um para a sua casa! Depois de três anos de equipes pastorais comuns, as duas paróquias se viam novamente dotadas de um pároco titular.
Assim, de volta à estaca zero, e a obrigação aos paroquianos de voltar para a sua casa própria. O que fizemos, como paroquianos obedientes que somos.

Mas havia uma "falha" que eu não demorei para descobrir. O novo pároco era, na realidade, só um administrador posto ali pelo bispo como líder de uma paróquia que devia fazer uma ampla acolhida aos fiéis praticantes da missa de rito tridentino. O que ele fez admiravelmente, já que vinha das suas fileiras. Assim, depois de cinco anos como padre administrador, ele foi, no ano passado, nomeado pároco titular da paróquia e instalado como tal.

E depois, simultaneamente, vimos chegar um segundo vigário da mesma tendência. Assim, dois braços suplementares. Normal, vocês podem pensar, já que agora a paróquia tinha duas comunidades distintas. E, sobretudo, nada de mistura! Todos os domingos e durante as grandes festas litúrgicas, tudo é feito duplamente: duas vigílias de Natal, duas ceias da Quinta-feira Santa, duas vigílias de Páscoa etc. E com a preocupação com os horários, para fazer com que tudo caiba em uma mesma noite.

Alguns poderiam pensar: mas que maravilha! Que performance! Que dinamismo! Que eficiência!

Infelizmente, por trás do ativismo permanente que os nossos dois padres devem enfrentar e ao qual não podem se isentar, porque é a missão que lhes foi atribuída, vemos brotar as "boas velhas tradições". Com o retorno dos cíngulos e das rendas, o vocabulário das homilias se modificou: as crianças devem fazer pequenos sacrifícios durante a Quaresma para agradar ao bom Deus. Os adultos nada mais são do que pecadores que ferem o coração do bom Deus. O pecado da impureza voltou à moda, o santo sacrifício da Missa é o sacrifício propiciatório reiterado todo domingo pela remissão dos pecados, as almas do Purgatório aparecem nas nossas orações, e o inferno está à espreita.

O que dizer da pastoral implementada?

É um retorno às devoções piedosas como a recitação do Rosário, a bênção do Santíssimo Sacramento, a confissão semanal necessária para acolher de coração puro a Santa Eucaristia, as adorações ao Santíssimo Sacramento duas vezes por semana e as procissões ao redor da igreja duas ou três vezes por ano com as vestes pesadas dos hábitos de antigamente...

Devo confessar que a minha docilidade habitual não funciona mais e eu não posso engatar a marcha ré. Abandonei a igreja paroquial e fui me abrigar em uma pequena capela rural onde não há incenso, mas sim belas flores colhidas todos os domingos por uma senhora em seu jardim. Todos aqueles e aquelas que vêm aqui gostam de encontrar a Presença reconfortante do Cristo que se doa. E vão embora contentes, porque têm a certeza de que o amor que receberam é plenitude.

Infelizmente, a homilia que ouvem sempre os incomoda, porque é um dos dois padres que a faz, com as palavras de um outro século.

Assim, uma vez por mês, eu escapo para a paróquia irmã, a que me hospedou nos tempos da fusão e que foi economizada da desconstrução. Quando eu não conseguir mais ouvir pregações devastadoras, eu irei embora definitivamente. Por enquanto, eu espero, porque um ano ainda é um período muito curto para desertar e porque as minhas raízes ainda são profundas.

Eis a história de uma paróquia, a minha, que eu amei porque me formou, me estruturou. E agora eu não reconheço mais a sua linguagem e vejo que ela assume o rosto empoeirado do passado.
Lembro-me do canto do Amado para a sua Vinha:

"Meu amigo possuía uma vinha em fértil colina. Cavou-a, tirou-lhe as pedras e plantou nela videiras de uvas vermelhas. No meio, construiu uma guarita e fez um lagar. Esperava que produzisse uvas boas, mas..." (Isaías 5, 1-3).

Fonte: Blog do Conselho Diocesano de Leigos/as - SUL I

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