TEMPO DE ENCRUZILHADA...

Estamos numa encruzilhada e quem insistir em permanecer em berço esplêndido não conseguirá enxergar os sinais dos tempos, a presença misteriosa de Deus nas mais tênues realidades ao seu redor. É tempo de voltar às fontes e redescobrir a essência da fé cristã, tão distorcida e vilipendiada ao longo dos séculos. O cristianismo só tem sentido enquanto expressão plena e perene do Reino de Deus, caso contrário, será apenas um conjunto frio e estático de regras, palavras e dogmas sem ressonância alguma na vida concreta(...)

Os leigos e leigas precisam assumir, de uma vez por todas, sua missão “ad extra”, sua verdadeira identidade e eclesialidade. Muito mais do que ovelhas mansamente conduzidas pelas mãos dos seus pastores, somos chamados a fazer acontecer o projeto libertador de Jesus Cristo, não só na possibilidade remota da ausência do clero, mas nas diferentes realidades, principalmente aonde a Igreja deixou de estar há muito tempo. É lá nos porões da humanidade, aonde o ser humano se desfigurou e perdeu a sua dignidade, lá onde ninguém mais quer ir que devemos viver a nossa fé, colocando a vida em risco em nome de um projeto maior.

Estamos descristianizando a nossa fé, sufocando a autêntica espiritualidade vivenciada por Jesus com ritos e mais ritos, devoções para todo gosto de acordo com os anseios capitalistas de uma pequena aristocracia religiosa. Infelizmente, os grandes discursos eclesiais afastaram Jesus das periferias, dos excluídos! Construíram palácios e palacetes luxuosos, ambientes em que os mais simples não se sentem acolhidos. Nesse processo de romanização e institucionalização selvagem em que vivemos, acabamos nos distanciando daquilo que nos é mais caro, a construção do Reino. Nossa linguagem evangelizadora não evangeliza, “domestica” e produz cristãos infantilizados, alienados, prontos para conjugar o verbo “calangar”. Atribuímos a Jesus uma ideia majestosa de governo, dispensando a simplicidade do seu processo catequético que atraía multidões para ouví-lo.

Quem é Jesus para nós? O que fizeram com o Jesus histórico, com o Messias dos excluídos, contestador e denunciador? Carlos Jardel, animador das CEBs, disse certa vez em um de seus artigos: “Hoje nos apresentam um Jesus rico, acadêmico e sedentário, que não consegue fazer dietas dos produtos gordurosos produzidos pelas tecnologias do sistema. O Jesus que apresentam é burguês, com aparência de “play boy”, com uma mensagem caduca, meramente nostálgica e abestalhada, com propósitos que o próprio não acredita. Deste jeito, o povão, ávido por palavras de vida eterna, não se estimula a seguir o play boy que foi crucificado”. Verdade inquestionável!!

Urge a necessidade de novos questionadores, de seguidores - anunciadores da boa nova, que comunguem com a vida do povo e que, acima de tudo, personifiquem a imagem de Jesus do meio popular, simples, pobre, mas engajado na luta dos pobres por justiça...

Por César Augusto Rocha - Setor de Comunicação do CNLB

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