Partindo do pressuposto de que o
mundo com as suas diferentes realidades e demandas sociais é o campo específico
de atuação dos cristãos, particularmente, dos leigos e leigas, como fermento de
transformação, desvela-se diante de nós, um grande desafio: COMO ENFRENTAR O FENÔMENO CONHECIDO COMO “DARWINISMO SOCIAL” NA CONTEMPORANEIDADE ? O termo,
inspirado no pensamento de Charles Robert Darwin (1809-1882) - famoso
naturalista britânico - foi popularizado
em 1944, pelo historiador americano Richard Hofstadter e designa o processo de
enriquecimento e “empoderamento” gradativo de uma pequena parcela da população
em detrimento a uma grande maioria que vive em situação de vulnerabilidade e
abandono social...
A tradição cristã ao longo dos
séculos sempre legitimou a ideia da justa distribuição de renda e da prática da
caridade cristã. São Basílio, falando da avareza dos ricos, diz: “pertence ao
faminto o pão que tu reténs”. E questiona sobre a prática da ganância: “como
irei pôr diante de teus olhos os sofrimentos dos famintos, de tal maneira que
tu fiques conhecendo de que espécie de gemidos tu entesouras para ti?” São João
Crisóstomo, por sua vez, referindo-se aos pobres, exorta os fiéis a
“convencerem-se de que a maior honra está em se lhes assemelhar ao comungarem
com suas mesmas tribulações”. Diz, incisivo, São Gregório de Nissa: “com
palavras somente não se enriquecem os necessitados, deem-lhes casa, leito e
mesa, é isto a Palavra de Deus, anterior aos séculos”. A concentração de renda,
o acúmulo de riqueza e bens materiais, a disparidade gritante entre ricos e
pobres dentre outros aspectos da vida moderna, não se coadunam com os
princípios evangélicos que insistem a todo instante na partilha, na
solidariedade fraterna e na autêntica vida em comunidade. Ainda se canta com
frequência: “Os cristãos tinham tudo em comum, dividiam seus bens com alegria,
Deus espera que os dons de cada um se repartam com amor no dia-a-dia”. Temos
conseguido vivenciar concretamente o que este refrão meditativo nos ensina e
nos interpela?
Infelizmente, parece que nos
distanciamos um pouco ou muito das fontes, da inspiração primeira que
caracterizou esta prática cristã. Dividir os bens com alegria tem um sentido
profundamente emblemático para os seguidores de Jesus. Muito mais importante do
que prover uma necessidade imediata, emergencial, de uma família ou indivíduo,
é fazer-se doação e ter empatia das dores e sofrimentos alheios. A atitude
paternalista feita muitas vezes por desencargo de consciência deve dar lugar à
prática do amor sincero, desinteressado e altruísta. Num segundo momento, é
preciso intervir de forma incisiva e organizada contra as estruturas sociais e
políticas geradoras de todo esse processo de exclusão e marginalização, de uma
forma crítica e propositiva, para construir coletivamente, a partir das bases,
alternativas de mudança e transformação social.
Como podemos comungar semanalmente
ou diariamente com o Cristo Eucarístico e profanarmos esse mesmo Cristo sendo coniventes
com a miséria e desigualdade social que assola a vida de tantos irmãos e irmãs?
Nossas Igrejas têm conseguido atrair os mais pobres e excluídos de nossas
comunidades e vivenciado a dimensão profética própria de sua ação
evangelizadora? Temos conseguido contribuir para o avanço de uma economia
solidária em resposta a este modelo econômico neoliberal marcadamente
excludente? Nossos discursos conscientizam e abrem novas perspectivas de
engajamento na comunidade ou contribuem ainda mais para o processo de alienação
da fé?
Optemos, pois, por um cristianismo
mais autêntico, menos subserviente e essencialmente voltado para a vida, para a
prática da justiça e para a verdadeira caridade cristã.
Por César Augusto Rocha - Equipe de Comunicação do CNLB
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