DES-BUROCRATIZAR PARA MELHOR VIVER A FÉ

De que forma se dá a experiência da fé cristã em nossa vida? O que representa Jesus Cristo e o seu projeto salvífico-libertador nesta sociedade contemporânea? Penso que esta reflexão se reveste de um caráter singular, já que vivemos uma profunda crise religiosa e existencial nos dias de hoje. Na realidade, só há duas formas de entender a fé cristã: como fermento de transformação ou como ópio ideológico. Com qual das duas vertentes nos identificamos? Não há meio termos quando se trata dos ensinamentos do profeta de Nazaré...

O cristão/ã, antes de tudo, deve ser alguém que exala em sua maneira de viver “o perfume de Cristo”, um místico e um profeta, uma presença de esperança e de amor preferencialmente junto àqueles que foram desprovidos de dignidade pela sociedade – os que são “invisíveis” aos olhos deste mundo secularizado. Seguir Jesus significa ser artífice e protagonista na construção do Reino de Deus. “Quem tem ouvidos, ouça!” A expressão “Reino de Deus” é a síntese do ser cristão, o cerne de sua identidade e missão. Leonardo Boff complementa esta reflexão dizendo: “Jesus veio pregar o Reino de Deus e em seu lugar veio a Igreja. A Igreja, segundo ele, deve ser como a vela acesa. O que ilumina é a chama, não a vela. A vela é suporte para que a chama queime, irradiando luz e calor. A vela é a Igreja, a chama é Jesus e a experiência do Reino de Deus” (cf. Espiritualidade – caminho de transformação – pg. 26).
O Evangelho de Jesus Cristo não pode ser vivenciado distante da problemática humana e das grandes questões que interpelam o ser humano hoje. É no chão tingido de fome, miséria, violência e marginalização, lá nos porões da humanidade, que somos chamados e convocados a manter acesa a luz do Cristo ressuscitado. É junto aos pobres e excluídos, principalmente entre os que são vítimas desse atual sistema econômico neoliberal e capitalista que devemos viver a nossa fé e o nosso discipulado cristão.
Se nossa fé nos remete a esse compromisso concreto com as lutas populares por uma sociedade nova e nos faz perceber o rosto desfigurado de Cristo nos empobrecidos e marginalizados, então, ela se transforma em um autêntico caminho espiritual, fruto de uma experiência verdadeira e globalizante. Caso contrário, ela não passará de um espiritualismo puramente emocional, intimista e superficial, sem ressonância na vida concreta. Esse talvez seja o grande pecado de muitas igrejas hoje - o relativismo cristão. Nos grandes meios de comunicação nunca se falou tanto de Jesus Cristo, porém, poucos querem viver realmente as opções que nortearam a vida do Mestre, sobretudo, a OPÇÃO PELA VIDA – contra toda cultura geradora de morte; a OPÇÃO PELOS POBRES – não numa atitude paternalista ou assistencialista, mas na luta contra todo poder que oprime e nos impede de ser sujeitos da história e na OPÇÃO PELO AMOR – fonte de toda a sua prática e caminho de libertação.
Talvez seja a hora de des-institucionalizarmos e des-burocratizarmos a nossa vivência cristã, tirando o excesso de adereços e adornos que ao longo dos anos e dos séculos foram escondendo o verdadeiro rosto do Jesus histórico. Algumas correntes da Igreja tentam esvaziar a historicidade de Jesus, transformando-o em uma espécie de “guru”, num mestre voltado unicamente para a cura de traumas e feridas emocionais – um tipo de psicanalista de plantão. A descoberta de nossa essência cristã passa necessariamente pela redescoberta do Cristo histórico. Em contrapartida ao Jesus puramente “milagreiro”, focado exclusivamente na salvação das almas, há outros aspectos pouco mencionados na vida do Messias de Nazaré, dentre eles, o caráter profético-libertador de sua missão e o real significado de sua morte e ressurreição.

A nossa fé hoje é REINOCÊNTRICA ou ECLESIOCÊNTRICA? Um dos documentos da Igreja trazia como título: “QUEREMOS VER JESUS – CAMINHO, VERDADE E VIDA – eu perguntaria: “QUE JESUS QUEREMOS REALMENTE VER E SEGUIR?”
   
Por César Augusto Rocha - Equipe de Comunicação do CNLB

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