REFLEXÃO DO EVANGELHO DOMINICAL - Mc 12, 38-44 - 32º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B


DADOS PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO:

-DOUTORES DA LEI – A expressão “Doutores da Lei” era apenas um apelativo pomposo dado aos “escribas”. A palavra “escriba” quer dizer “escrevente”. Era aquele judeu que se ocupava em copiar a mão os manuscritos sagrados da Bíblia, já que a imprensa ainda não havia sido descoberta. E, pelo ato repetitivo de repassar as letras sagradas, ficavam peritos na Sagrada Escritura.
Como as leis que compunham o Direito do povo judeu estavam inseridas na Bíblia, os escribas tornaram-se verdadeiros advogados e exploravam os pobres nessa função, aproveitando-se dos meandros da Lei nem sempre éticos, como acontece ainda hoje. Como nos diz o evangelho de hoje, eles tinham uma sede pelas primeiras cadeiras, pelos primeiros lugares e se deliciavam com esse título pomposo “Doutores da Lei”...

VAMOS CONFRONTAR OS DOIS COMPORTAMENTOS ADVERSOS QUE A BÍBLIA NOS APRESENTA: o exibicionismo dos Doutores da Lei  x  o anonimato da viúva.

Os escribas praticavam uma religião “exibicionista”: gostavam das primeiras cadeiras nas sinagogas. “Ocupavam as poltronas diante do cofre que guardava os livros sagrados. Essas se situavam num lugar elevado, à vista de todos, de modo que o povo os identificava imediatamente como Mestres.” (Vide “Roteiros Homiléticos” do Pe. José Bortolini, pag 480.) Fa ziam longas orações com gestos espalhafatosos, só para serem vistos. A religião para eles se limitava a práticas exteriores, desligadas do coração, tanto que o comportamento e a vida particular deles eram reprováveis. Eles exploravam as viúvas. “Acabavam cobrando pelos serviços uma quantia tal, que as viúvas, muitas vezes, tinham de lhes entregar a própria casa.” (Vide coluna-laranja de O Domingo de 11.11.2012 do Pe. Paulo Bazaglia, SSP). Certo dia, Jesus sentou-se diante do cofre das esmolas  e viu que muitos ricos depositavam grandes quantias. “Os especialistas dizem que um sacerdote de plantão acolhia essas ofertas e proclamava a quantia que cada um depositava. Nesse momento, o ego dos ricos atingia picos elevados de exaltação.” (Vide “Roteiros Homiléticos” do Pe. José Bortolini, pag. 481).

O comportamento da viúva, porém, era “anônimo”. Enquanto o escriba (Doutor da Lei) povoava a alta esfera da sociedade (o primeiro lugar nos banquetes e a louvação fácil do povo), a “viuvez” – até isso – era considerada um castigo de Deus por um pecado cometido. A viúva era marginalizada como pecadora. Por outro lado, a religião da viúva não era “exibicionista”, mas nascia do coração, pois ela agia heroicamente diante de sua situação de penúria sem contar com o olhar  e a ovação do povo.

- JESUS TINHA GRANDE SENSIBILIDADE COM A CLASSE POBRE E HUMILDE.


Ele enxergava as ações, as mais humildes e imperceptíveis dos pobres e marginalizados e as apregoava alto e bom som, como se ele quisesse estimulá-los, encorajá-los ou compensá-los pelo desprezo que recebiam dos outros.

-Percebeu quando a mulher que sofria de um fluxo de sangue (a hemorroíssa) tocou a fímbria do seu manto.
-Enxergou o aleijado que se apertava entre os freqüentadores do templo e curou-o, à vista de todos, mesmo em dia de sábado.

-Escutou, no meio do burburinho de uma multidão, a voz esganiçada do cego de Jericó á beira da estrada e o chamou para curá-lo.

-Percebeu e elogiou os gestos acanhados da viúva anônima junto ao cofre das esmolas no templo.

Esse era o traço mais adorável do Deus-homem, que devia ser imitado por todos nós.

- REFLEXÕES:

-Hoje há também os “Doutores da Lei”, só que não envolvidos nesse título pomposo. São os candidatos políticos, que, muitas vezes, pegam carona em solenidades religiosas, comparecendo inusitadamente à igreja bem à vista do povo, como “marketing” para se elegerem ou se tornarem queridinhos do povo.

-Vamos refletir sobre a religiosidade externa, que não nasce do coração, aquele assomo religioso dos fins de semana, que não influenciam no nosso viver da semana que entra. Há também os que se eximem de dar seu testemunho cristão em público – prática que se vê, sobretudo, entre os homens - baseados erroneamente naquele versículo “não veja a tua mão esquerda o que faz a direita”. A interpretação errada desse conselho misturada com o respeito humano torna estéril a vida cristã de muitos.

Por Francisco Valmir Rocha - Animação Bíblica de Camocim/CE

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